Acho pertinente que este tema seja incluído entre os primeiros estudados na aula de Educação Física. Existe uma confusão muito grande que permeia nosso cotidiano e ainda atrapalha o andamento das aulas: os alunos assistem esporte na TV, querem praticar o que assistem, mas o que realmente desperta seu interesse é jogar.
A construção dessa diferença é fundamental e a postagem de hoje tem esse objetivo.
Aula 1 - As diferenças e semelhanças entre jogo e esporte
- Como dinâmica inicial, questione os alunos sobre as atividades que gostam de fazer em seu tempo livre. Anotar no quadro todas as indicações, sem restrição. Na sequência, peça que eles classifiquem quais das atividades se enquadram como JOGO e quais delas seriam ESPORTE. Após essa rápida seleção, compartilhe a divisão e explore eventuais polêmicas e discordâncias, levando os alunos ao questionamento dos conceitos que formam cada atividade.
- Proponha aos alunos um jogo amplamente conhecido - sugestão: QUEIMADA. Permita que eles decidam a maneira de compor as equipes, o espaço em que a atividade ocorrerá, regras e implementos de jogo. A atividade transcorrerá normalmente, interfira somente quando houver discordâncias que não se resolvam, relembrando as regras combinadas inicialmente. Com o fim do jogo, proponha uma nova forma de jogar - no caso da queimada, mude a montagem das equipes, altere o espaço, inclua variações no funcionamento do jogo e novas regras que permitam maior participação. Neste momento, sempre é importante garantir a participação de todos, sem exceção, para as futuras comparações a serem feitas com o esporte. Ainda, anote ou memorize a duração de cada disputa.
- Organize uma prática esportiva formal. Monte equipes com o número oficial de participantes (permita-se, inclusive, formar equipes com alunos mais habilidosos em detrimento de um equilíbrio, uma desatenção pedagogicamente pensada!), defina quais delas jogarão e esteja próximo para arbitrar o jogo de acordo com as regras oficiais.
- Ao final, as práticas devem ter causado um efeito inicial de prazer, mas sem atingir a todos plenamente. Pergunte quem saiu satisfeito da aula e questione os motivos para sim ou para não. Reúna o grupo e coloque as diferenças pensadas para cada situação. Desta discussão final, deve sair a definição do que é jogo e esporte:
JOGO
- Permite mudanças nas regras
- Permite mudanças no número de participantes
- Permite mudanças no espaço de jogo
- Permite mudanças na duração do jogo
ESPORTE
- Tem regras oficiais
- O número de participantes é fixo
- O espaço de prática oficial é fixo
- A duração de jogo é fixa
O contraponto deve ser nas possibilidades de mudança permitida pelo jogo, enquanto o esporte tem um formato mais "amarrado". Vale dar exemplos do cotidiano dos alunos, como aquele jogo de bola feito na rua de casa, onde as metas são formadas pelos chinelos e medidas em passos, a bola por vezes não sai nas laterais, mais pessoas chegam e também participam, o jogo pode durar indefinidamente ou acabar com a marcação de uma quantidade de gols, recomeçar com a entrada de novos jogadores, não exige goleiro... "Será que esse jogo de futebol é igual ao jogo que assistimos na televisão?"
Créditos da imagem: Lenço Encarnado
O que vimos aqui talvez requeira duas ou mais aulas para estar fixado como conhecimento. Não perca a oportunidade de cativar os alunos para o jogo! Vale pesar a mão no esporte, falando de exigência de rendimento, lesões, cobrança, dificuldade de acesso... O jogar sempre vai trazer mais prazer se comparado ao esporte formal! Eu garanto.
Uma pequena tentativa de construir fundações para a LUDocência. Tudo parte de uma intencionalidade pessoal, alguns podem concordar, outros discordar, mas eu vejo muito mais vantagens no trabalho com jogos. O esporte exclui, seleciona e robotiza a prática se não for devidamente entendido. Para encerrar sem ser tão crítico e revoltado contra o sistema, segue uma postagem humorística no tema de hoje: Vôlei é rebaixado a brincadeira de rua; queimada vira esporte
Abraços a todos e até a próxima!