sexta-feira, 29 de abril de 2011

Lutas - a pedagogia da superação II

Na sequência pedagógica proposta, a segunda parte vai mais a fundo nas modalidades de luta, observando sua organização prática como atividade e também sua fundamentação teórica.

Aula 3 - Os meios e modos de luta

Após um momento de prática que tinha como objetivo facilitar a assimilação de uma pedagogia baseada em jogos de oposição, podemos trazer mais informações para a discussão. Fazer alguns questionamentos sobre aquilo que já sabem é bem rico, pois eles percebem que apropriaram conhecimento e podem saber mais a respeito. Pergunte como podemos saber que uma pessoa pratica alguma luta só olhando para ela, pergunte também como é o lugar onde acontecem os treinos ou aulas de lutas e o que eles fazem nestes lugares. Daí já fica fácil tirar três possíveis assuntos: Vestimentas, Local e Organização Prática.

Vestimentas: como praticante, cada pessoa veste uma determinada roupa de acordo com a modalidade. No caso de grande parte das lutas de origem japonesa, a roupa consiste em uma calça e casaco brancos, um conjunto chamado de "GI" (lê-se GUI). Em outras, apenas uma calça ou calção sinalizam a luta praticada, nos casos do boxe e capoeira. Mas há casos como o da esgrima e do tae kwon do, onde além de caracterizar a modalidade, a vestimenta possui função protetora. Ocorre também o uso de uma faixa ou cordão que demonstra o conhecimento do lutador na modalidade, onde cada cor é uma etapa na qual ele precisa cumprir certos requisitos para continuar sua evolução no aprendizado da luta.

Karate gi - popularmente chamado de quimono

Aqui, atletas de Tae Kwon Do com a vestimenta adequada e usando também equipamentos de proteção na cabeça e no tronco (existem também protetores para os pés e luvas para as mãos).

Na capoeira, a calça é confortável o bastante para permitir movimentos amplos com as pernas. Na cintura, o cordão representa a experiência do capoeirista e o domínio que ele possui na modalidade.

Local: Novamente, a diferença entre briga e luta vale para que os alunos consigam identificar os lugares corretos. Após algum direcionamento, eles logo chegam à conclusão da importância que o local escolhido para a prática de lutas possui para os lutadores. Vale observar o respeito dos caratecas pelo dojô e a organização harmoniosa construída pela roda de capoeira. Quando esportivizadas, cada luta determina qual será o espaço e seus limites, assim como eventuais punições a quem o abandone. A título de informação, vale também citar a ocupação do espaço, que usa o mestre ou professor como referência à frente dos outros praticantes e distribui os lutadores de acordo com seu nível de conhecimento.

Na grande maioria das lutas orientais, o local onde a luta é praticada - dojo em lutas japonesas, dojang no tae kwon do e kwoon na China - merece muito respeito e nele não se pode pisar calçado ou entrar e sair sem prestar reverência.

Numa roda de capoeira, todos se envolvem com a atividade, pois enquanto dois lutam na roda, o restante toca instrumentos, bate palmas e canta as letras, observando e incentivando os colegas de atividade.

Organização Prática: aqui, vale questionar se acham que as lutas são apenas combates entre os praticantes ou se é necessário algum tipo de preparo. Assim, exemplos como o caratê, onde os lutadores dão início ao treino comprimentando o sensei (mestre), realizando exercícios de aquecimento e alongamento, passando aos exercícios de bases, golpes e defesas chamados kihon, sequências combinadas de movimentos chamadas de katas e, por fim, lutas com colegas chamadas de kumite, são ótimos para que eles entendam o funcionamento de uma atividade de lutas.


O referencial teórico fica para a última parte, com sugestões de textos, livros e filmes relacionados. Abraços a todos, até a próxima, não esqueçam de discutir comigo nos comentários, as participações são sempre bemvindas!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Indicação no prêmio TOP BLOG 2011


Pelo segundo ano consecutivo, o LUDocência foi indicado para concorrer no prêmio TOP BLOG, categoria Educação.

Depois da honrosa participação no BlogBooks, quando foi um dos 10 finalistas entre 1938 outros blogs inscritos , espero alcançar o mesmo sucesso. No primeiro turno, os 100 mais votados serão selecionados. Conto com os votos de vocês para dar mais visibilidade e levar as ideias da LUDocência a mais pessoas!

Abraços a todos!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Lutas - a pedagogia da superação I


A ausência nessa última semana se deve ao feriado prolongado e também ao fechamento do bimestre, atividades para aplicar e avaliações a corrigir.

- Como assim?? Achei que Educação Física fosse só jogar na quadra e dar a maior nota para quem tem mais habilidade...

Espero sinceramente que você não concorde com o senso comum que me questionou aí em cima... Se assim for, ficará mais fácil de entender essa série de propostas relacionadas às Lutas.

Conforme escrevi aqui no outro post, gosto do tema e aprecio sua presença na escola. Vejo possibilidades de proporcionar aos alunos uma compreensão diferente, uma aproximação entre o mundo da prática de atividade física e uma base filosófica cujos objetivos vão de encontro à demanda atual: humanizar as relações e tornar cada um consciente dos seus limites.

Chega de blá, blá, blá!

LUTAS

Aula 1 - Conhecimentos iniciais
Para começar os trabalhos, é interessante desenvolver algo que facilite as discussões, levantando informações que eles já tenham, suas impressões a respeito, se já assisitiram algo relacionado na televisão... Tudo vale para começar a conversa. Não esqueça de construir a diferença entre luta e briga, enfatizando o caráter organizado da segunda em detrimento da resolução desordenada de problemas e violência da primeira.

Exemplos de atividades: dividir os alunos em equipes e realizar um pequeno jogo de forca com nomes de modalidades de lutas e outros termos relacionados; elaborar um roteiro de questões sobre o assunto, perguntando quais lutas conhecem, se já praticaram alguma, de que lugar do mundo tem origem as lutas que conhecem, se lutas sempre são ligadas à violência etc.

Aula 2 - A divisão por padrões de movimento
Se conseguirmos olhar a maioria das modalidades de luta, veremos que é possível agrupá-las de acordo com o que é determinante na prática. Assim, lutas como karatê, tae kwon do, capoeira, kung fu e boxe preconizam o CONTATO. Algumas também englobam ações que visam levar o adversário ao chão por meio do DESEQUILÍBRIO, quase todas as que também apresentam a IMOBILIZAÇÃO como característica marcante: judô, luta olímpica, jiu jitsu e aikidô. Ainda podemos acrescentar as lutas em que ocorre a EXPULSÃO DO TERRITÓRIO, situação predominante no sumô, por exemplo. Vale também citar aquelas em que são usados implementos como espadas e bastões, classificamos estas entre as lutas COM INSTRUMENTOS, das quais são exemplos a esgrima e o kendô.

Exemplos de atividades:
CONTATO - em duplas, traga um conjunto de pregadores de roupa. Alternadamente, um dos "lutadores" deve distribuir pregadores na parte da frente da roupa (tronco, braços e pernas) enquanto o outro tenta retirá-los no tempo determinado; ainda em duplas, um tenta encostar no pé do outro com as mãos.
DESEQUILÍBRIO - lado a lado, com um pé apenas no chão, os "lutadores" tentam forçar o adversário a colocar o outro pé no chão usando apenas os ombros; frente a frente, mãos entrelaçadas, posição de cócoras apoiada somente nas pontas dos pés, tentando fazer o adversário encostar o joelho no chão ou se sentar.

Créditos da imagem: blog Educador Nilton Zumba

IMOBILIZAÇÃO - um "lutador" possui uma bola, enquanto o adversário deve tentar tomá-la. Aquele que segura a bola deve fazê-lo sem utilizar as mãos e ao "ladrão" é vedado o uso de pancadas, socos, tapas e contato na região da cabeça e pescoço.
EXPULSÃO DE TERRITÓRIO - Frente a frente, mãos entrelaçadas, é permitido puxar e empurrar para fazer o adversário ultrapassar uma linha no chão; variar a atividade anterior usando somente uma das mãos, realizando de costas, permitir só puxar, só empurrar, em quatro apoios usando a lateral do corpo etc.
INSTRUMENTOS - Confeccionar uma espada de jornal, enrolando uma folha de jornal começando da ponta, na diagonal, bem apertado para ficar firme. Explicar brevemente as regiões de pontuação e o posicionamento durante o combate, organizando rotinas de enfrentamento entre todos. Uma variação que eu vi um tempo atrás era vestir o aluno com um colete de jornal e molhar a ponta da espada em tinta colorida para que os movimentos ficassem marcados no colete.

Primeira parte concluída. Nas próximas postagens, algum referencial teórico para basear os estudos, sugestões de filmes e mais atividades práticas. Não deixe de acompanhar o complemento da abordagem das lutas como adotei neste ano com as sétimas séries. Abraços a todos!

sábado, 16 de abril de 2011

Lutas na escola


Já vi gente negando aos alunos o conhecimento das lutas por entender que estimularia a violência, mais do que ela já está presente na escola. Já vi outros dizerem que não trabalham com esse conteúdo por que não possuem o conhecimento técnico. Discordo de todos e vejo o estudo das lutas como parte fundamental da Educação Física Escolar, além de trazer algumas vantagens interessantes para negar o uso de soluções físicas na resolução de conflitos e compreender a atividade física como um todo.

Para mim, é bem mais fácil tratar de algo que eu já vivi, experimentei e ainda gosto muito, o karatê foi minha principal atividade durante 4 anos na infância. No entanto, algumas atividades simples podem ser aplicadas até mesmo por aqueles que não tiveram contato com nenhuma luta!

As lutas tem origem na necessidade do homem de resolver suas diferenças com seus iguais e consigo mesmo. Sua prática permite ao ser humano entender os próprios limites, ser capaz de concentrar-se em um objetivo e adquirir um estado físico, mental e espiritual equilibrado. Existem modalidades diversas ao redor do mundo, com grande ocorrência no Oriente (países como China e Japão possuem diferentes estilos e milhões de pessoas praticando).

É preciso deixar claro durante este estudo a diferença entre luta e briga, já que a primeira é organizada e possui bases teóricas e filosóficas, enquanto a segunda é um descontrole emocional ligado à violência.

Nas próximas semanas, uma proposta didática dividida em dois módulos, conforme a divisão que utilizo na escola no 7º e 8º anos (6ª e 7ª séries). Tudo baseado na breve experiência que acumulo, já que existe pouca bibliografia nesta área de conhecimento. Indicarei algumas leituras que possam ajudar!

Fico por aqui na expectativa da Virada Cultural 2011, estarei curtindo lá no Anhagabaú. Abraços a todos!!!

sábado, 9 de abril de 2011

De portões fechados

Nesta semana, a tragédia no Rio trouxe comoção nacional e colocou na mídia uma discussão antiga: a segurança nas escolas. Muito se discutiu sobre como o atirador entrou facilmente na unidade de ensino, como pode circular com liberdade pelos corredores, como a saída desesperada dos alunos pelos corredores foi cheia de atropelos e esbarrões...

Não sei quando foi, mas vem de alguns séculos essa cara da escola: muros altos que não deixam ninguém enxergar nada lá dentro, portões de ferro trancados com correntes e cadeados, seguranças contratados, rondas de funcionários nos corredores... Já citei o autor uma vez por aqui, mas ainda vale a pena relembrar as discussões de Foucault sobre as semelhanças entre instituições públicas de controle (escolas, hospitais, presídios). Essas construções se configuraram desta forma para atender demandas da sociedade que perduram até hoje, infelizmente.

E as pessoas continuam se convencendo de que essa é a melhor situação, que devemos fechar mais as escolas, proteger com grades e sistemas de segurança, isolar completamente toda instituição de ensino do mundo lá fora. Pra quê? O que é mais fácil pode trazer mais problemas, com demandas reprimidas, excessos de controle e uma vigilância permanente que abusa e fere o direito de ser.

Por que não repensar a maneira como enxergamos as coisas?
Por que não transformar as ideias de acumular, vencer e sobrepujar em dividir, compartilhar e confortar?
Por que não fazer do mundo onde vivemos um lugar onde todos se sintam confortáveis, sem precisar explodir no cano de revólveres, nos homens-bomba, nas discussões do trânsito, nas brigas por lugares na fila e na abominável situação em que crianças perdem o direito de viver pela intolerância e pelo radicalismo?

Eu queria uma escola que se abrisse para o mundo, que fizesse parte dele, na qual os lugares de aprender fossem qualquer lugar. No entanto, tudo se encaminha para um fim triste em que a sociedade só transmite o que há de negativo. A ilha de educação, antes fosse isolada, agora lida com um panorama de total enclausuramente para que se faça existir.

Abraços a todos.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...