quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aquecendo motores

Bem, bem, bem... Ontem foi o START do meu ano de trabalho. A previsão é de bastante trabalho e trânsito intenso, já que agora me deslocarei da escola para o CRAS. Como? Não sabe o que é CRAS? Parênteses para apresentar mais um ramo da política de assistência social governamental.

CRAS significa Centro de Referência de Assistência Social. Neste estabelecimento público, são oferecidos alguns auxílios a famílias em situaçao de risco ou vulnerabilidade social. Existem programas específicos para crianças, jovens e adultos. Mais informações no link!

Sumaré é uma das cidades onde existe esse trabalho. E meu cargo é justamente para trabalhar no CRAS São Judas junto aos programas de assistência com crianças e adolescentes.

Ontem foi o primeiro dia, fiquei mais observando como são as crianças, o que eles fazem, como se portam... Este primeiro período até o carnaval servirá bem para ir pensando as formas e modos de intervenção. Não acho que terei dificuldades muito grandes, afinal o público é o mesmo da escola. Lá, eu tenho a vantagem de ter mais liberdade na sequência de atividades, uma vez que o caráter é mais recreativo. Nem por isso vou deixar o barco correr do jeito deles, minha marca vai aparecer!!!

Na escola, ação mesmo só no dia 18/02. Escola nova, como já abordei em post anterior. Espero continuar melhorando a minha atuação profissional em todos os locais, agradeço muito essas oportunidades que o destino e a competência me trazem. Quero sempre fazer a diferença.

Obrigado a todos pelas visitas. Se puderem, comentem, sinto falta de dialogar a respeito de todas essas ideias jogadas ao vento e na rede. Abraços a todos!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

As alegrias de tudo em nada

Hoje é o dia em que vou acertar minha função como Professor Social na Prefeitura de Sumaré. Uma surpresa tão agradável fazia tempos que eu não tinha... Mais uma oportunidade profissional! Tem vezes que eu me pego pensando se tudo isso o que acontece comigo não é muito rápido ou precoce, afinal, de saída, eu sempre estive "adiantado" na escola pela data do meu nascimento. No final do meu curso no Cotuca, prestei um vestibular sem grandes pretensões e o bom ensino médio turbinado com semanas de estudo pesado me levou a uma vaga na Unicamp para estudar o que eu tanto desejava. No final da minha graduação, um concurso antigo chamou de novo os aprovados e eu pude ser empossado como professor efetivo no Estado...

Fico feliz com essas conquistas que venho tendo desde sempre... Mas não tenho tanto orgulho, nem acho que sou melhor que alguém. Não sou prepotente a tal ponto, não é da minha índole e quem me conhece sabe disso. Talvez eu deva ter pulado algumas etapas e acelerado um ou outro período de experiências, mas não me arrependo e, principalmente, valorizo o que eu construí antes usando aquilo que tenho de melhor: a capacidade de me comprometer seriamente com um objetivo.

Isso não porque eu quero ganhar dinheiro, nem porque eu viso realmente alcançar sucesso e fama ou ainda porque eu esteja somente retribuindo à sociedade o investimento realizado na minha formação. É porque a sinceridade que as crianças demonstram para comigo todos os dias é algo que não encontro em outras instâncias da minha vida pessoal. Elas sabem o que querem, sinalizam quando não estão contentes com uma situação e, finalmente, abandonam o jogo sempre que não querem participar. Não há nada pior que fingir estar no jogo e deixar no mão os companheiros de equipe e adversários. Isso delas vale que eu perca horas a fio pensando em quais experiências teremos na próxima oportunidade juntos. Vale demais.

Tem gente que não vai entender... Tem gente que vai. Na minha vida, nunca houve espaço para dúvidas. Agora, eu sinto que não tenho certeza sobre alguma coisa justamente porque não é com as crianças que lido. Ou talvez seja. O certo mesmo é que eu estou louco para encontrá-las, as crianças. Elas sim me dão alegria e se me decepcionam é porque estão aprendendo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Altos, baixos, águas e tremores

De ontem para hoje, notícias muito tristes chegam de um lugar onde a tristeza predomina na difícil vida de seus habitantes. Os tremores catastróficos no Haiti me fizeram lembrar, em menores proporções, das dificuldades pelas quais vi algumas famílias de alunos da escola passarem após um temporal no final de novembro, se minha memória não falha... Google, me ajude!

Achei uma reportagem. É, foi mais no começo de dezembro, bem me lembro da água que caía naqueles dias, quando precisei inclusive adiar a realização do Festival e cogitei cancelar a realização do Interclasses.

Dá uma olhada no estrago:
Se bobear, acho que essa imagem é justamente da casa de uma aluna da quinta série, parece bastante com a visão que tínhamos no dia seguinte, quando fomos visitar o bairro onde mora uma boa parte dos meus alunos do ano passado.

Agora... no comparativo, nem preciso colocar imagens do Haiti, todos estão vendo e ouvindo bastante em todos os veículos de notícias. Como, em situações de desastre e desamparo dessa natureza, espera-se que um trabalho de formação seja feito com eficiência total pela escola? Os alunos e suas famílias encontram-se expostos a tantos problemas de ordem pública, é tão precário o processo em que alguns tentam alcançar mais dignidade, me parece que não existe preocupação de ninguém em trabalhar para suprir essas necessidades tão urgentes. Permite-se tudo, não se proíbe nada e muito pouco é oferecido (na maioria das vezes, nada!). Ou seja: permite-se que as pessoas morem em lugares onde não há infraestrutura básica para viver; ao ocupar o local, essas pessoas podem usar de meios irregulares ou inadequados e ninguém aparece para impedir ou proibir e, por fim, é confortável deixar todos nessas condições precárias, já que regularizar a situação do local traz custos de obras e manutenção que, aos olhos dos responsáveis, não a valem as cobranças de impostos a que estariam sujeitos. Fica todo mundo no limbo, só resolvem problemas quando a TV aparece para fazer reportagem, só cortam o mato e tiram lixo na época da eleição... Enquanto isso, casas são destruídas, famílias perdem seus parcos pertences, crianças são assassinadas (um aluno meu foi morto por engano no ano passado).

Quem perde são as próprias pessoas, transitando entre níveis insignificantes de cidadania e direitos humanos, prejudicando todos os âmbitos de suas vidas, inclusive a formação educacional. Um ciclo que só para com uma daquelas paradas extraordinárias, iniciativas que dão na TV, ONGs...

Não precisa ser assim. Eu estou na escola pública porque acredito nesse poder de mudança e superação de status quo. Lutar contra esse ambiente desfavorável requer muita ajuda... Minha vontade e a do aluno juntas tem potência, mas só uma família que dê apoio contínuo pode catapultar uma criança para fora desse sistema vergonhoso. Aqui e no Haiti, falta a muita gente abrir os olhos e sair da cegueira forçada para ver o quanto a escola pode e o quanto ela falha.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O que foi fato

Alguma vez você já fez o exercício de rebobinar a fita e lembrar das coisas que, mesmo dando errado, foram fundamentais para tudo o que você fez em seguida? Não? Bom, é... Eu também não. Mas resolvi tentar pela primeira vez hoje e vamos ver no que vai dar!


Pra iniciar, nada poderia ser mais marcante: meu transporte movida a pedaladas. Depois da feliz notícia de minha remoção e após verificar que a distância entre o local e minha casa não era das maiores, tomei a decisão de adquirir uma boa bike para me locomover de maneira limpa e saudável. Investi pesado, mas não me arrependi! A bike aguentou o tranco o ano todo, mostrou-se muito confortável e eficiente e só não foi usada sempre por causa das chuvas torrenciais do ano passado... Já fiz a nota mental de comprar paralamas. Nunca me esqueço da cara de interrogação dos alunos quando me viram chegando de bicicleta:
- Fessor, mas você não tem um carro, não?
- Eu até tenho, mas prefiro vir de bicicleta!
- Eita... Então deixa eu dar um rolê com ela?
- Nem pensar!
- Dá uma empinada pra gente ver!
- Até parece...

Depois, aquelas aulas do começo do ano em que tive de enrolá-los o máximo possível para fazer chegar a autorização de usar a quadra do Singular. No primeiro dia, apresentações. No segundo dia, uma conversa sobre o que eles já haviam visto nas aulas de Educação Física. No terceiro dia, apresentação dos conteúdos do ano todo. No quarto dia, introdução aos temas do bimestre. Chegou a quinta aula e eu já estava sem argumento: vamos ao pátio e damos um jeito, não é? Fracasso... Mas a partir da outra semana, tudo mudou e fomos felizes ao sair pelo portão da escola e atravessar a rua em direção ao Singular. Mesmo com o sol quente, as chuvas, o frio, os carros em alta velocidade, os alunos que ficaram para trás na escola e também no Singular, na hora de voltar.

E os materiais arremessados por cima da grade e caindo no vizinho... Obviamente, sem querer, querendo. Bambolês foram uns três ou quatro, duas bolas de meia, uma de vôlei que o cachorro furou, duas bolinhas de borracha muito boas para jogar betes. Quanto a danos e prejuízos, perdi as contas das cordas desfiadas, das bolas de vôlei e basquete chutadas, dos tacos quebrados, dos bambolês consertados com fita adesiva, das caixas de papelão usadas para transporte de material que foram rasgadas e arrebentadas e as boladas que eu levei em todas as partes do corpo. Nem doeram mesmo...
Das minhas trapalhadas é fácil contar. Começa com coisas inocentes como esquecer o diário de classe, o giz ou algum material na sala dos professores... Depois, passei pelo estágio de confundir os nomes dos alunos, nada mais natural e perdoável. Teve uma vez que rasguei minha calça na grade do pátio, justo quando eu daria aula o dia todo... No final do 1° semestre, lá estava dando aula na sala de informática, fui me aproximar para indicar o que fazer com o mouse e os alunos descobriram que eu tinha uma entrada de ar na camiseta, localizada próxima à axila. Isso que dá ir trabalhar com roupa surrada... Ah, sim, no quesito vestuário eu tive outras como os tênis furados e rasgados que meus alunos não aceitavam:
- Professor, seu tênis está rasgado!
- Eu sei, é assim mesmo, qual o problema?
- Se chover, seu pé vai ficar molhado. E tá feio assim!


Sem falar nas estripulias que eu precisava demonstrar e estava exposto a quedas súbitas de coisas dos bolsos, elásticos de cuecas aparecendo, tropeções em pés de alunos, boladas em alunos, encontrões e as frequentes más execuções de atividades que, mesmo com ensaios milimetricamente calculados, eu nunca acertava e sempre dava a desculpa de que era só para demonstrar como fazer. Que droga, eu sempre quero acertar!!!!

Ahh, o ano foi bom demais... Não vou falar de estresses, preocupações, correrias e broncas. Vou lembrar com saudade de mais um ano em que aprendi mais sobre ser professor.
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