quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As relações de tempo e espaço escolares

Não é de hoje que esse tema preenche meu trabalho diário com dúvidas e inquietações. Afinal, eu já comecei minha LUDocência tendo de dividir espaços com outros dois professores de Educação Física no mesmo período, tendo de encontrar maneiras outras de considerar os conhecimentos e informações que minha prática docente intencionava quando me era negado o direito de usar este ou aquele instrumento pedagógico (inclusos os materiais). Ainda no ano passado, passei pelas aulas "a prestação": começávamos a aula até trinta minutos, os alunos saíam para o intervalo e retornavam para mais vinte minutos, os quais invariavelmente aconteciam dentro da sala pois na entrada da turma, outras saíam para seu próprio intervalo.

Aí a gente também considera a quadra descoberta na qual o sol das 10h da manhã é um abuso contra a saúde de todos nestes tempos de altos índices de radiação. Sem falar na chuva, impiedoso adversário de uma imensa quantidade de professores preocupados em se planejar e ainda mais preocupados em ter cartas na manga para preencher o vazio de atividades em uma sala cheia de alunos inquietos pela negativa atmosférica que não lhes permitiu um momento de exploração motora dentro da imensidão estática das salas fechadas, apertadas e abarrotadas de gente.

As salas de aula são o que há de mais ultrapassado e inconcebível na escola atual. Por que sentar-se em fileiras, um atrás do outro? Qual a vantagem em fazer isso quando tanto se discute na superação dos modelos de classificação, ordem e disciplina antes vigentes? Eu anseio por salas ambiente para cada disciplina (e quero a minha também, assim como uma quadra coberta), alunos sentados em U, todos lado a lado e não olhando para nuca do outro, não encostados na parede e sim reunidos em trabalhos de pesquisa, sugestão e recriação daquilo que trazem para dentro da escola.

Lousas decentes, que sejam ainda os quadros negros, brancos ou lousas digitais, mas que lá estejam e possam ser bem utilizadas. Janelas amplas que não excluam o exterior do que se conversa lá dentro e ainda assim sejam menos interessantes. Cadeiras confortáveis, mesas ajustadas aos tamanhos dos alunos, armários onde eles possam guardar e retirar seus materiais sem precisar transportá-los todos os dias para casa, onde o esquecimento se abate sobre qualquer um. Laboratórios de ciências, salas de leitura, bibliotecas, salas de informática ativas e em funcionamento, salas de vídeo, refeitórios, piscinas, campos gramados, campos de areia, vestiários... Escolas de tempo integral, com um currículo comum e períodos de opção individual de acordo com as preferências de cada aluno (modalidades esportivas, artes, música, dança, jogos, línguas, leitura, escrita, cinema)...

Quando é que será assim? Talvez nunca, talvez já o seja em alguns lugares privilegiados e de acesso restrito, tanto social quando financeiramente. A verdade é que dificilmente será interessante para aqueles que estão à frente das políticas públicas oferecer uma educação verdadeira no sentido viver a cultura como um todo, tanto a sua individual como a coletivamente construída ao longo dos tempos. Ter escolas com tempo de ensinar e condições de trabalho sempre será perigoso. Vejo eu mesmo tornando-me subversivo!

Abraços a todos! Se visitarem, comentem!
Hugs for everybody! If you came to visit my blog, please leave a message!
(tenho visitantes de outros países, minha gente! Deem uma olhada no mapinha ali do lado direito e saibam um pouco dos acessos e origens que são caminhos para o LUDocência!)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Prezando ambientes

Estive fora por uma semana em viagem: o destino foi o Ceará. Belas praias, lindas paisagens, um clima tropical, mas suavizado pela brisa constante que preenche todo o território e é muito bem aproveitado na geração de energia elétrica (através de geradores eólicos, uns ventiladores gigantes colocados no meio das dunas de areia próximas ao litoral). De lá, trouxe boas lembranças, um tom a mais de bronzeado (diferente da nuca, braços e canelas já castigados o ano todo pelo sol na quadra) e experiência de conviver por alguns dias numa outra esfera cultural bem diversa da habitual.

A região nordeste realmente é quase outro país... Se percebe na fala, na maneira de pensar, de vestir, em tudo. E lá, como sempre acontece ao chegar em lugares desconhecidos, você é o estranho pois não fala, pensa e age como o restante. Paulista desde sempre (sem renegar a herança mineira muito apreciada!), a gente realmente estranha certos fatos e se surpreende com a maioria.

Enfim, terei o que lembrar por muito tempo.

Mas a realidade está aí. Me culpei ao retornar quando percebi que outubro já está terminando e quase não comecei o 4° bimestre em seus novos temas. Para variar, o que vejo da proposta curricular não me satisfez, inclusive nem chegaram os benditos dos cadernos desses últimos dois meses de aula. Erro ao pisar fora da linha e engrenar a segunda?

Erraria se não estivesse indo de encontro às ideias e intenções que construo junto com meus alunos. Já fizemos as opções que estavam em aberto, já identifiquei o que existe de lacunas para ligar informações e conhecimentos e retomarei o trabalho para garantir que, ao final do ano, eu tenha a satisfação de encontrar alunos que experimentaram a sensação de saber pensar e fazer diferente do que sempre fizeram.

Ahh, mas e a indiferença deles nesse processo? Que eu não desanime perante negativas nem me deixe abalar por alguns desmerecedores de ensino. Vou realizar pelos meus ALUNOS e não me desmotivarei pelos que preferem não o ser. Abraços a todos!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Organização Participativa

Acho que este tema merecerá mais posts ao longo deste último e ressonante (que beleza!!) bimestre.

As oitavas séries sob minha ludocência organizarão dois eventos escolares: um festival de talentos e um campeonato interclasses. A ideia inicial era compartilhar os trabalhos entre componentes das duas turmas... E foi o que tentei fazer na quarta. Sem sucesso.

Aparentemente, as salas não se bicam desde sempre, para deixar claro. Então intervi e determinei que cada uma administrasse a construção de um dos eventos. Como a 8ªB estava mais organizada, deixei que ficassem com o campeonato. Consequentemente, a 8ª assumiu o festival e me pareceram bem empolgados com a ideia.

O que espero com essa ação é torná-los ativos no processo de elaboração e ressignificação da cultura de movimento, além de envolvê-los com responsabilidades. Aposto que o final, com tudo dando certo, os deixará orgulhosos!!

Primeiros passos, mais uma vez. O erro e o acerto convivem tão bem na minha LUDocência que acho que quero continuar errando pra sempre. O erro me torna consciente dos meus passos, enquanto os momentâneos acertos cada vez mais se mostram ilusões perante a realidade complexa que é lecionar na escola pública de periferia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Residindo no medo

O título assusta? Inicialmente, talvez. Vou me justificar quanto ao uso de um termo popularmente negativo.

Estou participando de um curso muito interessante na EEFE-USP, aos sábados, ministrado pelo prof. Walter Correia. A turma é toda formada por professores de escola pública e o título não é algo tão comercial como se vê por aí: Educação Física Escolar - Acolhendo Dilemas e Soluções Docentes. Não tem fórmula mágica, não nos coloca a par das últimas novidades pedagógicas nem bate na mesma tecla de nos responsabilizar pela mudança na educação. Simplesmente, a proposta é dar voz a todas as angústias que surgem dentre os docentes.

E isso vem funcionando, como bem disse uma colega na manhã de hoje, é quase uma terapia de grupo! Participei da dinâmica inicial de hoje. A temática? MEDO. "Você tem medo de quê?"É difícil asssumirmos a relevância de considerarmos nossos medos cotidianos. Lembramos de medo de altura, medo de escuro, medo da violência... E o medo de não acertar no trabalho? E o medo de magoar alguém com nossas atitudes? E o medo de não corresponder às expectativas?

Luzes apagadas, silêncio para ouvir os relatos. Fui o último dos três primeiros e sintetizei em algumas palavras a imensidão de sentimentos que me invadiram desde fevereiro de 2008, meu início no magistério. Dei vazão ao grande medo que tenho e me senti melhor, falei de como tenho medo de ver a instituição ESCOLA fracassar, perder seu sentido e não ter mais valor perante uma sociedade renovada e veloz. Ao mesmo tempo, "cutucados" pelo professor, aproveitamos a perguntaa música dos Titãs - Comida: "Você tem fome de quê?". A minha fome se saciará ao ver essa escola prosperar por meio de professores, alunos, famílias e investimentos.

Taí, eu aceitei esse medo, falei sobre ele e não me parece mais tão assustador. Pensei na minha fome e agora fica claro que realmente é o que me motiva a estar todos os dias na escola.

Um medo que não é físico. Uma fome que também não é material... Como eu queria que cada um dos meus alunos encontrasse essas respostas, se não em si mesmos, pelo menos com a minha ajuda, ou de seus professores. Que seja... A diferença será feita onde existe algo faltando.

Abraços a todos. O quarto bimestre está prometendo!
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