segunda-feira, 31 de maio de 2010

Coluna SPNET: O que faz o camisa 20?

Texto publicado no site SPNET: http://www.saopaulofc.com.br/colunas/20100531/o+que+faz+o+camisa+20.jhtml

O QUE FAZ O CAMISA 20?
Notas sobre a presença de Richarlyson no elenco tricolor.

Poucos se atreveriam a cruzar essa estrada tortuosa de conviver ao mesmo tempo com a contestação de possuir capacidade suficiente para atuar pelo Mais Querido e ter de se justificar a cada dia por especulações sobre sua opção sexual. Richarlyson o faz. Tal fato não o torna melhor ou pior que ninguém, nem mesmo tem importância para quem é torcedor.

Prefiro reservar este espaço para tentar descobrir porque já passaram tantos jogadores pelo São Paulo desde 2005 e ele, tão contestado, permanece. Afinal, o que ele faz de diferente e especial para merecer ser titular com todos os técnicos que passaram pelo nosso tricolor do Morumbi?

Contratado junto ao Santo André em 2005, após ser destaque no Paulistão daquele ano, foi peça de reposição importante no elenco que conquistou o primeiro da série de três títulos consecutivos do Brasileirão (2006, 2007, 2008). Em 2007, apresentou um bom futebol na dupla de volantes que formou ao lado de Hernanes, culminando com sua escolha para a seleção do Brasileirão daquele mesmo ano. As boas atuações também foram aprovadas por Dunga e Richarlyson foi convocado para a seleção brasileira no início de 2008, participando de amistoso contra a Irlanda.

O curioso ao analisar sua atuação dentro de campo é a versatilidade e o compromisso com que este jogador assume a função na qual é escalado. É muito pouco provável que outros jogadores de meio campo aceitassem ser recuados para jogar na lateral ou como zagueiros sem ficarem insatisfeitos. Richarlyson simplesmente desempenha seu papel.

No entanto, a constante adaptação na lateral esquerda e a crise de criatividade pela qual passou o meio campo do São Paulo entre 2008 e 2009, exigiu de Richarlyson algo que ele demonstrou não possuir: qualidade no passe e inteligência ofensiva. Lançamentos defeituosos, passes bisonhos, dribles desnecessários e outras presepadas incitaram a ira de alguns tricolores contra o jogador. Tais críticas se somaram a fatores extra-campo e instalaram um clima de impaciência e ódio por parte de algumas facções de torcedores sãopaulinos.

Entre altos e baixos, críticas e elogios, Richarlyson permaneceu. Eu, como profissional da área esportiva, acredito que seja possível entender a preferência dos técnicos pelo jogador. O camisa 20 possui uma vocação defensiva invejável e rara disposição física. Quando atua dentro desta exigência tática, seu desempenho merece notas e elogios, pois desarma bastante e impede o avanço do adversário em direção ao gol. Só não funcionam as tentativas de improvisação na lateral e como segundo volante que auxilia na construção de jogadas, onde ele precisa acumular a função de ataque e suas deficiências ofensivas ficam evidentes,. O papel tático de Richarlyson jamais deve estar além do setor defensivo, onde está longe de comprometer na maioria das suas participações.

Na maioria porque não é difícil que ele extrapole os limites da vontade e disposição com entradas de muito vigor e violência. Se os técnicos conseguirem incutir nele uma marcação limpa que combine sua excelente preparação física com posicionamento eficaz, não serei capaz de exigir sua saída da equipe novamente. Nenhum outro atleta pode ocupar essa função no atual elenco tricolor. Se desejamos liberar Hernanes, Marlos, Cicinho e Junior César para ajudarem nas jogadas de ataque, precisamos de um jogador que seja capaz de se doar plenamente na cobertura e marcação. Hoje, este alguém é Richarlyson. Deixem o homem trabalhar!

Por Guilherme Freitas

Guilherme Freitas, 23 anos, professor de Educação Física, natural de Campinas-SP e sãopaulino desde sempre, mesmo sem saber!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu não me sinto alienado!

Falta pouco para começar a Copa do Mundo FIFA 2010. Em alguns dias, 32 seleções nacionais tentarão chegar ao mais importante titulo do mundo futebolístico. Todo o clima criado ao redor dessa reunião de varias línguas, costumes, tradições e historias traz a sensação de que o mundo pode ser melhor se esquecermos os problemas e falhas do ser humano pelos momentos de êxtase proporcionados pelos atletas durante as partidas.

Esquecer problemas e falhas? Soa como descaso e falta de compromisso social para um professor forjado e profissionalmente colocado em instituições estaduais de ensino. Espera-se dele maior força de mudança e iniciativas que possibilitem aos seus alunos a transformação do mundo em que vivem. Não se pode aceitar que este professor permita ser influenciado pela mídia e compre a ideia da Copa permitir a conciliação dos povos e a união das nações.

O complicado reside no fato de eu ter crescido num lugar chamado Brasil. Aqui se vive, come e dorme futebol todos os dias. Apesar de eu nunca ter sido dos maiores entusiastas quando menor, hoje sou um admirador ferrenho e não me envergonho disso. Durante os anos de faculdade, aprendi que posso transcender o simples torcedor apaixonado e vestir a camisa do admirador do jogo. Continuo acompanhando tudo o que diz respeito ao futebol... E ainda abri espaço para outras boas preferências esportivas.

Meu papel na escola também considera esta mudança de postura. Mas tenho me sentido meio fora de orbita durante as aulas, flutuando por cima dos alunos como se nada disso me atingisse... Agora que ficou mais latente, sinto que preciso ser mais humano, quem sabe...

Tenho algumas semanas para tentar observar essa nova-velha maneira de lidar. Vou começar revelando um pouco dessa paixão pelo futebol e pela Copa do Mundo (adoro mesmo, se fosse em algum programa de perguntas e respostas, escolheria responder sobre todas as Copas!), criar expectativas e tentar ver se desperto neles algum interesse comum. De minha parte, acho que faço o que posso e não estarei sendo massa de manobra.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quem quer aprender?

Sempre achei o máximo poder saber sobre o máximo de coisas possíveis. Naturalmente, procurava absorver informações variadas sobre assuntos úteis e inúteis. Alimentei e cultivei meu gosto por aquilo que é popularmente chamado de "cultura geral" desde a época de criança, quando adorava decorar nomes de carros, passando pelas capitais do estados brasileiros, decorar as duas primeiras estrofes de "Os Lusíadas"... Não sei de onde veio esse meu gosto, mas sempre senti prazer em saber das coisas, o diferente me atraía e eu buscava saber o que era e como era.

Assim aconteceu recentemente com o floorball, esporte que descobri no ano passado através de minhas pesquisas sobre hóquei. Acabei contatando o pessoal da seleção brasileira e até recebi gratuitamente um material riquíssimo vindo diretamente da federação internacional da modalidade. Agora, para que serve isso? Que serventia teria o conhecimento de que existe o floorball para alguém?

São essas perguntas que devem vagar pela cabeça dos meus alunos de sexta série... O momento de descoberta e avanço que eu posso proporcionar é negado veementemente a cada semana. Adolescentes que entendem ser (ver post anterior), deixam claro que está optando por não dar atenção a qualquer tentativa chata de tirá-los de seu estado confortável onde tudo sabem e tudo conhecem. De nada lhes serve serem capazes de permitir e conceder sua vez no jogo ou experimentar as sensações de "ser caçado e caçar" nas nuances de um simples pega-pega com bola.

Hoje foram quatro aulas de luta boca a boca... Como é desgastante estar onde não se pode somar como desejado. Mudar, reformular, reorganizar: espero não esgotar minhas alternativas. Será que o embate resiste até o recesso de julho? Espero conseguir melhoras significativas para o bem do conhecimento e para minha saúde mental! Ah, queria sair da faculdade com uns 5 anos de docência acumulados...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Das voltas que o mundo da criança dá...

Não faz tanto tempo, apesar de parecer longe, eu tive aulas de literatura com a professora Sílvia lá no Cotuca. Sinceramente, eu ia muito mal nessa história de apontar características de escolas literárias e analisar um texto segundo as marcas que aquele tempo histórico apresentava. De ouvir e aprender, tem algo que me marcou: falando das semelhanças entre escolas de tempos diferentes, a professora recorreu a uma analogia conveniente para uma turma de ensino técnico em eletrônica - sim, todos fazem escolhas erradas, mas estou cansado de lembrar que escolher o Cotuca foi sim algo de certo! - : os valores de cada época seguiam com o passar dos anos, alternando altos e baixos, mas sempre prezando as mesmas coisas, saindo de cena e retornando... Valores eram super valorizados, depois relegados ao exílio na sociedade humana, isso em espaços de décadas.

Houve um tempo em que crianças e adultos não viviam com representatividade diferente na sociedade. Os pequenos eram desde cedo envolvidos nas tarefas de cuidar da casa e do sustento da família. O entendimento do ser humano em desenvolvimento como alguém que precisa de tempo para amadurecer é recente. Assim mesmo, já vem sendo posto de lado por quem deveria ser mais interessado nisso. Como? Explico...

Olhe uma criança, nem precisa ser assim tão grande. Do alto dos seus 4, 5 anos, a criança já está na escolinha, frequenta aulas de alguma coisa e se veste com miniaturas de roupas adultas. Se andarmos um pouco na idade, fazer 10 anos já é um marco em que se auto proclamam pré-adolescentes e exigem serem tratados de maneira diferenciada. Do mesmo jeito, querem já assumir comportamentos e atitudes antes vistas somente na metade da adolescência...

Temo pelo futuro da escola com a diminuição do tempo da infância. De verdade. Eu já não acredito na instituição escolar atual, pois ela é ineficiente nos aspectos físico, pessoal e social. Mas qualquer tentativa será inútil em breve e não será de todo estranho o início da preparação profissional específica logo após os primeiros meses de vida. De quem será a culpa? Se nascemos apenas com instinto de sobrevivência e adquirimos bagagem para desenvolver o instinto social, fica claro que é externo e não interno: crianças não nascem pré-programadas para pensar além.

Era imposto à criança amadurecer rápido para tomar conta de seu nariz o quanto antes. Hoje, parece pior: a criança impõe ser diferente do que é e abre mão de poder experimentar de tudo pela sua inocência, uma ignorância perdoável e adorável. Adoro colocá-los pra jogar e brincar nas minhas aulas: caem muitas das máscaras e eles mostram que ainda tem 10 ou 11 anos e só querem saber daquele momento que lhes dá prazer simples e puro... Vou ver se algum deles quer trocar comigo, adoraria ser quem sou hoje com uns 10 anos a menos!
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