sexta-feira, 7 de maio de 2010

Das voltas que o mundo da criança dá...

Não faz tanto tempo, apesar de parecer longe, eu tive aulas de literatura com a professora Sílvia lá no Cotuca. Sinceramente, eu ia muito mal nessa história de apontar características de escolas literárias e analisar um texto segundo as marcas que aquele tempo histórico apresentava. De ouvir e aprender, tem algo que me marcou: falando das semelhanças entre escolas de tempos diferentes, a professora recorreu a uma analogia conveniente para uma turma de ensino técnico em eletrônica - sim, todos fazem escolhas erradas, mas estou cansado de lembrar que escolher o Cotuca foi sim algo de certo! - : os valores de cada época seguiam com o passar dos anos, alternando altos e baixos, mas sempre prezando as mesmas coisas, saindo de cena e retornando... Valores eram super valorizados, depois relegados ao exílio na sociedade humana, isso em espaços de décadas.

Houve um tempo em que crianças e adultos não viviam com representatividade diferente na sociedade. Os pequenos eram desde cedo envolvidos nas tarefas de cuidar da casa e do sustento da família. O entendimento do ser humano em desenvolvimento como alguém que precisa de tempo para amadurecer é recente. Assim mesmo, já vem sendo posto de lado por quem deveria ser mais interessado nisso. Como? Explico...

Olhe uma criança, nem precisa ser assim tão grande. Do alto dos seus 4, 5 anos, a criança já está na escolinha, frequenta aulas de alguma coisa e se veste com miniaturas de roupas adultas. Se andarmos um pouco na idade, fazer 10 anos já é um marco em que se auto proclamam pré-adolescentes e exigem serem tratados de maneira diferenciada. Do mesmo jeito, querem já assumir comportamentos e atitudes antes vistas somente na metade da adolescência...

Temo pelo futuro da escola com a diminuição do tempo da infância. De verdade. Eu já não acredito na instituição escolar atual, pois ela é ineficiente nos aspectos físico, pessoal e social. Mas qualquer tentativa será inútil em breve e não será de todo estranho o início da preparação profissional específica logo após os primeiros meses de vida. De quem será a culpa? Se nascemos apenas com instinto de sobrevivência e adquirimos bagagem para desenvolver o instinto social, fica claro que é externo e não interno: crianças não nascem pré-programadas para pensar além.

Era imposto à criança amadurecer rápido para tomar conta de seu nariz o quanto antes. Hoje, parece pior: a criança impõe ser diferente do que é e abre mão de poder experimentar de tudo pela sua inocência, uma ignorância perdoável e adorável. Adoro colocá-los pra jogar e brincar nas minhas aulas: caem muitas das máscaras e eles mostram que ainda tem 10 ou 11 anos e só querem saber daquele momento que lhes dá prazer simples e puro... Vou ver se algum deles quer trocar comigo, adoraria ser quem sou hoje com uns 10 anos a menos!

Um comentário:

  1. Lembro-me dessas aulas com a profa. Sílvia. Bons tempos. Altos e baixos, espirais... tudo acaba se transformando, retoma o que já passou, avança mais um pouco... Se agora a educação está sucateada, talvez num futuro não muito distante esse quadro possa ser revertido. O importante é não cair no comodismo e continuar fazendo o próprio trabalho com ética e responsabilidade. Quem sabe assim não consegue inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, apesar das circunstâncias desfavoráveis? Pra você, sempre boa sorte e um ótimo trabalho.

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