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Uma das últimas fotos que tirei da Lilinha em 2011. |
Nesse feriado, uma dor muito grande tomou meu coração. A pequena cachorrinha que eu cresci cuidando e amando partiu desse mundo. E o post de hoje eu escrevo com muitas lágrimas nos olhos.
O engraçado é que tudo começou em um outro Dia das Crianças em 1998. Eu tinha 8 anos e estava na segunda série do ensino fundamental. Uma criança em todos os sentidos possíveis. Mas não sabia ainda que quem eu conheceria naquele feriado marcaria a minha vida de uma forma tão bonita.
A minha avó se mudou para Caconde/SP em 1997 e desde então todos os feriados a gente pega o carro e vai pra lá fazer uma visita. O sítio na época ainda era novidade para mim e eu me divertia muito lá. Nesse feriado, a gente saiu sábado cedinho e chegamos em Caconde no horário do almoço. Passamos também o domingo lá, mas na segunda-feira de manhã, dia 12 de Outubro, fizemos mais uma curta viagem até Poços de Caldas/MG, onde ainda vivia minha tia-avó Valda. A minha tia tinha uma filha adotiva que é apaixonada por animais. Já possuía uma cachorra grande, vários gatos e muitos pássaros, porém ainda tinha espaço para uma boa ação. Uma cadelinha tinha tido filhotes e estava largada nas ruas da cidade, pois a minha "prima" acolheu-a e doou os filhotinhos. Infelizmente, ou muito felizmente para mim, ela não conseguiu doar a cadela, e ela não poderia ficar na casa, então voltaria para a rua.
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Primeira foto com a Lilinha na sua casa feita por mim e o meu pai. |
Eu não sou e nem fui do tipo criança mimada. Meus pais me negaram muitas coisas e eu aprendi a aceitar uma coisa que ia contra a minha vontade desde muito cedo. Mas naquele dia, nada ia tirar aquela cadelinha de perto de mim. Foi paixão instantânea entre nós dois. A minha prima me apresentou ela como Lili, mas a gente foi chamando ela de Lilinha e o nome ficou. Sabendo da história de que ela iria para a rua, eu tive que tomar uma posição. E pedindo muito para os meus pais, acabei convencendo-os de trazê-la até Caconde e depois para Campinas. Eu consegui.
Ajeitamos ela no porta-malas dentro de uma caixa (caixas sempre foram a paixão da Lilinha) e partimos rumo a Caconde e mais tarde de volta para casa. O Rick, meu outro cão da época (que partiu em 2007), logo deu as boas-vindas para ela e os dois se tornaram grandes amigos desde então. A Lilinha se sentiu em casa e a alegria dela invadia tudo e a todos.
Quando a gente sente uma coisa no coração que a gente chama de amor, nem sempre sabemos que ele está lá. Nem sempre a gente dá valor. E a Lilinha conviveu comigo durante todos esses 13 anos e eu não sabia quão grande esse amor era. A gente passeava pelo bairro e ela me acompanhava ao andar de bicicleta, na casa de amigos meus, nas idas a padaria, farmácia... Uma companheira sempre alerta para ouvir o barulho da sua corrente de passeio, se aproximar rebolando aquele rabo de um jeito engraçado, com a boca curva em um sorriso e os olhos em atenção total a mim.
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Lilinha em 2003. |
Em alguns anos, a minha vida ficou corrida, eu fiquei sem tempo para passear com ela e os nossos encontros se tornavam raros momentos de carinho. Eu me arrependo bastante de não ter dado a atenção que ela precisava nesses últimos dias, sinto que fui negligente... Mas ela sabia o quanto eu queria não estar cansado depois do trabalho e da faculdade para acariciar sua barriga enquanto assistia televisão com os meus pais.
A Lilinha, além de uma ótima parceira familiar, foi também muito querida entre meus amigos. Ela era uma amiga até dos meus amigos. Sempre alguém perguntava "onde está a Lilinha?", "como está a Lilinha?", "a Lilinha ainda está com vocês?", o tipo de demonstração de carinho que não é qualquer cão que é capaz de causar.
Eu não sei como terminar um post desse. Ela foi uma cachorrinha muito forte pra idade dela. Ainda corria como se fosse seu primeiro dia lá em casa. Ainda latia como se fosse a primeira vez que um gato pulou no nosso quintal. Eu tinha certeza absoluta que ainda a teria por pelo menos uns dois ou três anos. Mas nesta última terça, dia 11, ela passou a tarde muito quieta e paralisada. Eu fui visitá-la após a faculdade e fiquei muito preocupado com seu estado triste na cama dela, mas preferi esperar o dia seguinte, e o efeito da vitamina que a minha mãe sempre dava a ela quando ela estava doente, para ver se aquilo passava. Mas acordei na quarta com a notícia do meu irmão de que ela estava fazendo barulhos de dor e sua respiração havia piorado. Pesquisamos um veterinário e partimos na mesma hora com ela em sua cama ainda, dentro do carro. Fui acariciando sua cabeça durante o percurso, tentando aliviar a sua dor.
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Fazendo-se de molenga pra foto em 2011. |
Quando ela foi atendida, seu quadro já estava muito pior. Mas apesar disso, sua mente ainda tentava recuperar-se da invalidez, e ela por várias vezes se levantou nas patas dianteiras e me olhou como quem pede ajuda. Essa imagem não saíra nunca da minha memória. É por ela que eu mais choro. O veterinário me disse então que o quadro dela era muito grave e que ela tinha problemas no coração e nos pulmões, além da barriga. Me deu a opção de tentar curá-la através de soro e diuréticos, ou levá-la para casa e esperar o fim. Eu acreditei mais uma vez nela e deixei a internada. Já na sala com o soro, ela gemia ainda mais e eu não podia fazer nada. Eu só podia olhar. Não aguentei, me despedi com um breve carinho em suas costas e parti com o meu irmão.
Pouco mais de uma hora depois, recebo a triste notícia de sua morte. A dor ainda ecoa dentro de mim como se aquilo tivesse acontecido agora. Eu tento não sofrer, mas aprendi que eu só supero as minhas dores quando coloco tudo pra fora. E esse post é a minha forma de agradecer a Lilinha por tudo que ela nos ofereceu. Espero que ela tenha sido feliz até o final e que o tratamento que a demos tenha sido suficiente para pelo menos valer um pouco sua paixão incondicional pelos donos mesmo quando maltratada.
Lilinha, eu te amo como uma filha, uma irmã e uma mãe. Você é e sempre será do meu sangue, da minha família e da minha eterna memória. Obrigado por existir.