"Vigiar e Punir"?

--> Primeiro, desculpem o atraso no post semanal. Estou atolado de diários de classe e notas para fechar, sobra pouco tempo.

Estava eu conversando com minha namorada a respeito de qualquer coisa, quando surgiram os estudos de Foucault relacionados na obra "Vigiar e Punir". Segundo o autor, existiria um consenso entre arquiteturas de instituições públicas como hospitais, escolas e penitenciárias: muros altos, corredores estreitos, vigilância constante, ordem, janelas estreitas, grades e portões fechados. E quem se lembra de seus tempos de escola, vai pensar que a escola é assim mesmo, com as exceção às aulas de Educação Física (banho de sol?).
- Verdade! Durante a semana toda , ficávamos na expectativa da aula de "Física" pra sair pra quadra, bater uma bola, brincar lá fora...
- Mas a disciplina é mais que só jogar e brincar! Podem acontecer aulas na sala também...
- Ihhhh, Educação Física na sala? Para quê?

Não é de hoje que a Educação Física dentro da sala rende pano pra manga. Desde a elevação de seu status de "atividade" para "componente curricular obrigatório", a luta é encontrar a mediação possível entre o estudo da cultura do movimento e sua vivência prática, fundamental e prazerosa. Eu mesmo já tratei de algo semelhante em postagem anterior (leia "Céu aberto"), quando dizia da infelicidade de meus alunos ao permanecerem na sala, enquanto eu justificava a opção pela exposição intensa aos raios solares.

Desta vez, eu falo da aula na sala como ferramenta de coerção. Sim, coerção. Não me lembro de ter ouvido qualquer coisa parecida durante os anos de graduação, mas acabei descobrindo que a coerção faz parte da educação básica, veja só! Sendo algo tão oposto à pedagogia, como posso aceitar que tal termo esteja presente na minha LUDocência?

Eis onde falho. Falho, mas não sozinho. Falho por ter de oferecer aos alunos conceitos os quais deveriam vir de casa. Falho por culpa de famílias desestruturadas e despreparadas, ignorantes quanto à função da escola. Falho por ser conivente com um sistema que acumula erros e torna inviável a recuperação do tempo perdido.

Para um grupo de alunos que age com desrespeito, falta de compromisso, falta de educação e não enxerga na aula de Educação Física mais que a quadra, a resposta: aulas na sala. Fim da alegria. Fim do espaço livre, da amplitude de movimento. Uma sequência de semanas sem data para terminar de espaço restrito e teorização do que é, por natureza, motor, vivo e espaçoso. Quem sabe na restrição eles consigam valorizar o que pode ser tão mais interessante...

Eu sei que erro. Mas não me é deixada outra alternativa. Ao professor, sobra apenas a frustração momentânea. Espero que o futuro compense os erros que cometo agora. Para mim, ficar na sala deveria ser uma opção. Neste caso específico, foi a única que restou.

Abraços a todos.

A G.A. em letras e cores

Estes momentos de registro são muito bacanas. Os alunos param para pensar no que fizeram, como aconteceu, o que sentiram e os resultados das atividades realizadas em aula. Normalmente, aparecem sempre gratas surpresas que nos deixam felizes que os objetivos tenham sido alcançados.

Infelizmente, existe uma cultura escolar do "fazer pro gasto" que predomina, assim tem muitos trabalhos que, num primeiro momento, sinalizam desleixo e ausência de clareza, mas uma análise mais profunda revela que estes alunos carregam na capacidade de elaboração a herança de um processo educacional falho. Por isto, usar de métodos variados para avaliar os alunos é sempre interessante para não desconsiderar outras formas de expressão (veja post "Avaliando desse jeito").

Abaixo, alguns trabalhos selecionados das minhas turmas de quinta série. As temáticas de cada aula foram representadas em formato de reportagem, combinando desenhos e textos, de acordo com a preferência de cada aluno. Para ampliar as imagens, basta clicar!

Registro da 1ª aula: Histórico da ginástica e modalidades existentes (precedida por entrevista realizada pelos alunos com um adulto sobre ginástica)

Mais um registro, agora mais focado na aula de Equilíbrios. Criei com os alunos o paralelo das atividades do circo enquanto fazíamos brincadeiras que exemplificavam exercícios da G.A.

O trabalho com as rotações foi bem simples, mas pareceu interessar muito os alunos. Uma maioria dizia não conseguir, mas ao levarmos a atividade para a rampa do estacionamento da escola, todos sentiram muita facilidade em realizar todas as propostas!

As atividades de apoios trouxeram o diferente, ao trocarmos os pés pelas mãos (sem apelar para a força da expressão, porque os alunos se viraram muito bem!). Muitos conseguiram perder o medo e a insegurança de ver o mundo invertido!

Criei uma solução mais atrativa quando falamos de suspensões. Normalmente, o trabalho com a trave de futsal/handebol seria bom, mas a corda com "argolas" nas pontas passada por cima do suporte da tabela de basquete interessou e eles participaram bastante, até os menos participativos quiseram tentar um giro!

Na próxima semana, os alunos farão um último registro contendo suas impressões a respeito do aprendizado com ginástica e o estudo estará concluído juntamente com o material que eles mesmos confeccionaram sobre Ginástica. De antemão, já dá para dizer que foi altamente produtivo este tema e só espero coisas melhores para encerrarmos o bimestre. Abraços a todos!

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Avaliações Gerais

Nesta semana que passou, ficou decidido que aplicaríamos a avaliação geral do bimestre, mais conhecido como "Provão", nesses três dias depois do feriado. Assim foi feito, o provão foi aplicado até o intervalo, após o qual os professores se reuniram para realizar a correção. O sistema criado pela coordenação é bem eficiente, com um gabarito na planilha do Excel para as questões objetivas. As questões dissertativas foram corrigidas pelo professor de cada disciplina.

De fato, os professores elaboraram as questões baseados nos conteúdos abordados ao longo das aulas e também se fizeram presentes na aplicação das provas, divididas em blocos (Redação, Leitura e Português - Educação Física, Artes, Inglês e História - Matemática, Ciências e Geografia). Mas uma breve avaliação das provas já deixa claro o primeiro problema: questões mal formuladas ou muito simples (ex: Quantos jogadores há em uma equipe de futsal?), que não exercitam no aluno a capacidade de relativizar informações e combinar conhecimentos.

Também tem a questão da economia de material. Há poucos dias, nem toner havia na impressora para imprimir as provas. Para não gastar tantas folhas, as questões tem letras pequenas e ficam empilhadas umas sobre as outras, dificultando a leitura e a diferenciação entre uma e outra. Figuras que estejam vinculadas precisar ser diminuídas e tornam complicada sua análise.

E, bem, falando dos alunos, poucos deles encontram alguma utilidade neste provão. Sinceramente, não tiro a razão de quem passa o ano sendo amontoado em salas de aula numerosas, não recebe qualquer incentivo ou suporte da família e ainda chega em séries avançadas sem dominar o mínimo de leitura, escrita, raciocínio e lógica.

Só de pensar que questionar esses fatores perante a direção de minha escola é inútil em virtude de um sistema falido e muito mal administrado... Mas as minhas questões foram formuladas pensando no que poderia acrescentar nesse momento. Vou reproduzir as da quinta série abaixo:

Para responder as questões 1, 2 e 3 leia os artigos abaixo:

Artigo 1: Queimada (jogo)

Material: Uma bola similar à de vôlei ou de borracha, de tamanho médio.
Local: O terreno é em forma retangular sendo dividido pelo meio, deverá ter um espaço no fundo denominado de "cemitério" ou campo dos queimados. Em muitas escolas são usadas as quadras de vôlei, mas pode ser usado qualquer espaço livre.
Formação: Á vontade, no campo marcado, com os jogadores queimados posicionados no “cemitério”.
N.º de jogadores: Varia conforme as convenções locais, e no caso de países onde seja levado a sério, varia também de acordo com a quantidade de pessoas que quiserem jogar.

Artigo 2: Futsal (esporte coletivo)

Material: uma bola de futsal específica da categoria e do campeonato disputado.
Local: A quadra de jogo será um retângulo com o comprimento máximo de 42 metros e o mínimo de 25 metros, tendo a largura máxima de 22 metros e a mínima de 15 metros. Deverão ser demarcadas as linhas da área de meta, da distância mínima nas cobranças de tiro de canto e lateral e do tiro de dez metros, assim como o círculo central. As metas onde são feitos os gols são formadas por duas traves com 2 metros de altura separadas por 3 metros de comprimento e unidas pelo travessão.
Formação: Existem muitas formações, mas a equipe em quadra é sempre formada por 5 jogadores, sendo somente 1 deles o goleiro.
N.º de jogadores: 5 em quadra mais 10 reservas no banco, totalizando 15 jogadores em cada equipe.

1 Normalmente, o esporte precisa de muita disciplina nas posições dos jogadores, além das regras que proíbem mais de um jogador ocupando determinadas posições no jogo. Identifique qual dos trechos caracteriza essa regra no futsal:

a “As metas onde são marcadas os gols são formadas por duas traves”
b “A quadra de jogo será um retângulo com o comprimento máximo de 42 metros”
c “Formação: À vontade, no campo marcado”
d “Formação: Existem muitas formações, mas a equipe em quadra é sempre formada por 5 jogadores, sendo somente 1 deles o goleiro.”
e “N.º de jogadores: Varia conforme as convenções locais”

2 Numa aula de Educação Física, o professor explicava aos alunos os esportes coletivos e seus elementos. Após falar da bola, dos adversários, dos companheiros de equipe, das regras que não mudam e do espaço definido de jogo, faltava falar do alvo. Pediu aos alunos que encontrassem no artigo 2 desta prova o trecho em que o alvo era descrito no seu tamanho. Determine qual o trecho correto:

a “As metas onde são feitos os gols são formados por duas traves com 2 metros de altura separadas por 3 metros de comprimento e unidas pelo travessão”
b “Deverá ter uma espaço no fundo denominado de ‘cemitério’”
c “Uma bola de futsal específica da categoria e do campeonato disputado”
d “Totalizando 15 jogadores em cada equipe”
e “Deverão ser demarcadas as linhas da área de meta”

3 Em outra aula, o professor desejava fazer um jogo de queimada com alguns alunos, mas mudando algumas regras para explicar as características do jogo. Quando ia para a quadra, descobriu que estava molhada pela chuva do dia anterior, mas o pátio do lado já estava seco. A turma tinha 40 alunos, mas 8 estavam com algum problema de saúde e não participaram. Começaram o jogo no pátio, com 32 alunos jogando. Quais características do jogo foram mudadas pelo professor para que a queimada acontecesse?

a Material e Local
b Local e N.º de jogadores
c Formação e Material
d Formação e Local
e Material e Formação

4 Durante o jogo de queimada, um aluno recebeu a bola e lançou com força para queimar alguém do time adversário, mas os jogadores da outra equipe foram ágeis e conseguiram desviar-se da bola. Marque a alternativa que traz a capacidade física mais usada pelo aluno que lançou a bola e a mais usada pelos alunos que se desviaram:

a Flexibilidade e Resistência
b Velocidade e Coordenação
c Resistência e Força
d Velocidade e Flexibilidade
e Força e Agilidade

5 A Ginástica é um assunto diferenciado se pensarmos nos esportes que mais são comentados na TV, nos jornais e na internet. Com os estudos sobre esse esporte individual, entendemos como a Ginástica surgiu e os tipos de atividades que fazem parte dela nos dias de hoje. Identifique qual alternativa abaixo não possui relação com a Ginástica:

a Exercícios para a saúde
b Saltos
c Aparelhos
d Acrobacias
e Dribles e arremessos

QUESTÕES DISSERTATIVAS

Relembre o nome de 1 (um) dos seis princípios operacionais dos esportes coletivos de ataque ou defesa e dê um exemplo de quando ele ocorre em um esporte coletivo de sua preferência.

A Ginástica Artística (GA) é uma modalidade formada por várias provas realizadas sobre aparelhos. Cite o nome de 1 (um) aparelho da GA, diga se ele é usado por homens, mulheres ou homens e mulheres e apresente quais elementos de movimentação estudados (equilíbrios, rotações, apoios e saltos) são usados no aparelho.

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Indo além do trivial

Tem certas falas muito comuns de se escutar quando trabalhamos com educação, seja ela formal ou não: "Os alunos não se interessam por nada!", "Eles não querem saber de nada!", "Já tentei de tudo e eles não querem ouvir..", "É impossível essa sala..."

Eu concordo que muito do que a escola poderia (e deveria) ser está perdido em algum lugar do tempo e espaço e hoje temos levas de crianças desencontradas nas muitas salas de aula abarrotadas do nosso país. Mas detesto generalizações burras e, além disso, pessoas que se valem de "muletas" para justificar a própria incompetência.

Manter-se em constante evolução é o desafio de quem educa atualmente. O complicado é que a desmotivação dessa classe profisisonal é geral... O ritmo de trabalho é estressante e perde-se mais tempo com resolução de conflitos e menos com educação.. Quando há o espaço, acontece também do profissional responsável não ter competência suficiente para sua função. Didática é fundamental e, juntamente com condições materiais adequadas e um sistema que exija compromisso de todas as partes envolvidas, pode ser a chave para construir uma escola voltada realmente para a formação do ser humano.

Minha obra prima!!!

Meu trampolim de pneu fez sucesso. Eu podia estar lamentando que a escola não possui espaço e materiais para que eu pudesse desenvolver um trabalho na ginástica, podia estar apostando no mesmo e culpando os alunos pelo fracasso de minhas tentativas em aula... Mas arregacei as mangas, mesmo sabendo que o reconhecimento é mínimo. Peguei firme em meu projeto, fiz algo que sabia que traria outra cara para as aulas e pude comprovar que estava certo. Mais do que saber o que ensinar, é necessário repensar o COMO, quais métodos são os mais adequados.

Estou finalizando a temática nas quintas séries, montarei as coletâneas de registros, digitalizarei alguns melhor elaborados e colocarei aqui para que possamos conversar.

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