sábado, 9 de abril de 2011

De portões fechados

Nesta semana, a tragédia no Rio trouxe comoção nacional e colocou na mídia uma discussão antiga: a segurança nas escolas. Muito se discutiu sobre como o atirador entrou facilmente na unidade de ensino, como pode circular com liberdade pelos corredores, como a saída desesperada dos alunos pelos corredores foi cheia de atropelos e esbarrões...

Não sei quando foi, mas vem de alguns séculos essa cara da escola: muros altos que não deixam ninguém enxergar nada lá dentro, portões de ferro trancados com correntes e cadeados, seguranças contratados, rondas de funcionários nos corredores... Já citei o autor uma vez por aqui, mas ainda vale a pena relembrar as discussões de Foucault sobre as semelhanças entre instituições públicas de controle (escolas, hospitais, presídios). Essas construções se configuraram desta forma para atender demandas da sociedade que perduram até hoje, infelizmente.

E as pessoas continuam se convencendo de que essa é a melhor situação, que devemos fechar mais as escolas, proteger com grades e sistemas de segurança, isolar completamente toda instituição de ensino do mundo lá fora. Pra quê? O que é mais fácil pode trazer mais problemas, com demandas reprimidas, excessos de controle e uma vigilância permanente que abusa e fere o direito de ser.

Por que não repensar a maneira como enxergamos as coisas?
Por que não transformar as ideias de acumular, vencer e sobrepujar em dividir, compartilhar e confortar?
Por que não fazer do mundo onde vivemos um lugar onde todos se sintam confortáveis, sem precisar explodir no cano de revólveres, nos homens-bomba, nas discussões do trânsito, nas brigas por lugares na fila e na abominável situação em que crianças perdem o direito de viver pela intolerância e pelo radicalismo?

Eu queria uma escola que se abrisse para o mundo, que fizesse parte dele, na qual os lugares de aprender fossem qualquer lugar. No entanto, tudo se encaminha para um fim triste em que a sociedade só transmite o que há de negativo. A ilha de educação, antes fosse isolada, agora lida com um panorama de total enclausuramente para que se faça existir.

Abraços a todos.

2 comentários:

  1. Guilherme, meus parabéns pelo teu blog.

    Quanto ao enclausuramento, sou da mesma opinião que vc, de que a escola deveria ser um lugar aberto e etc... minha reflexão é apenas a seguinte: Será que a sociedade em que vivemos, está preparada para essa escola "ideal"; uma sociedade que ainda tem que se deparar com assaltos a escolas, violência de vários tipos e agora mais essa ameaça, antes vista só pros lados dos EUA...pois é..chegou aqui.

    É sempre muito bom poder imaginar (e trabalhar por isso!) que a escola poderá ser um lugar em que não precisemos de muros e grades....mas no momento, creio que a segurança das crianças é prioridade.

    Patrimônio material se substitui, mas e o humano?

    Grande Abraço e mais uma vez, parabéns pelo blog, tá muito bom.

    Marcel Cavalcante

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  2. Marcel, obrigado pela visita e pelos elogios. Conforme escrevi, é o medo por enxergar uma sociedade cada vez mais longe desse ideal que enfraquece a escola que cumpra seu papel adequadamente. O mundo em que vivemos requer os muros altos e portões fechados em que vivemos, apesar de terem se provado ineficazes contra quem tem um propósito. Assim foi na escola, pode ser em qualquer lugar, pois não é a escola que se tornou insegura, mas sim o meio que coloca a escola em estado de insegurança!

    Abraços e volte sempre!

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