sábado, 24 de março de 2012

ConJOGANDO o esporte no plural V - considerações finais


A série partiu do jogo como elemento de encontro e troca entre as pessoas e chegou no esporte coletivo, preservando uma ideia de cooperação, circulação de valores e pregando que jogamos para aprender e aprendemos para jogar.

Só queria registrar nesta semana uma peculiaridade destes trabalhos: a relação de gêneros no trabalho com esporte coletivo. A observação desse fato é algo frequente e também foi sinalizado pela galera que está estagiando comigo lá na escola. Enquanto os meninos, geralmente, apresentam uma compreensão tática adequada, buscando espaços livres e se colocando para continuidade do jogo, as meninas se deixam ficar à margem das jogadas. Quando muito, é comum passar a bola para quem guardam maior afinidade ao invés da melhor opção tática. Essa herança de uma aula de Educação Física que não privilegia igualmente os dois gêneros com situações de aprendizado igualitárias acaba carregando problemas para outras dimensões, ao meu ver. Sem falar em dificuldades no meu trabalho, o grupo de meninas que abandonam as atividades (ou querem abandonar, porque eu sempre insisto em sua participação) é infinitamente superior ao de meninos. Acredito que seja porque sempre foram "deixadas" sem qualquer estímulo ou orientação.

Em grupos grandes, a tendência é dos meninos dominarem a atividade pela facilidade de entendimento e participação. Se dividir masculino e feminino, as queixas costumam extrapolar o ambiente do jogo para o pessoal: meninas reclamam daquelas que não gostam ou não tem amizade, meninos aproveitam do jogo com situações de maior truculência... Infelizmente, acontece, não em todos os casos, mas estar atento é importante.

Bom, eu mesmo deixei o clima meio pra baixo neste último post. Só vou lembrar que é uma alegria conseguir fazê-los jogar melhor jogando, tive exemplos muito bacanas com as turmas dos sextos anos. A maioria deles sente carência de protagonizar algo, possuir a bola e ter a continuidade do jogo sob suas decisões é marcante e objetivo para muitos. Nesse ponto, colocar mais bolas em jogo em algumas atividades é sempre válido.

Sugestões de referências!

- Jogos esportivos coletivos: dos princípios operacionais aos gestos técnicos - modelo pendular a partir das idéias de Claude Bayer - Prof. Dr. Jocimar Daolio (UNICAMP): um de meus mestres na graduação, este texto é a principal inspiração nos estudos de esportes coletivos que desenvolvo na escola. Disponível aqui!

- ESCOLA DA BOLA: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos - Roth & Kroger: mesmo tratando do aprendizado de esportes em sua prática, existem muitas opções de atividades de jogo coletivo que podem ajudar na compreensão dos princípios e elementos relacionados ao esporte coletivo.


- Filme "A Hora da Virada" (Rebound) - com Martin Lawrence: a temática é o basquete de um colégio em que um treinador precisa recomeçar sua carreira. O time não conta com grandes valores, mas a percepção do coletivo ajuda a equipe a evoluir e começar a marcar cestas e vencer jogos. Bem Sessão da Tarde, mas vale a observação de algumas cenas em que o trabalho coletivo é orientado.

Ficamos por aqui. Mais uma série encerrada, agradeço pelas visitas e comentários, apareçam sempre. Para a próxima semana, estou aceitando sugestões de postagem, ainda não defini o que vem pela frente. Abraços a todos e até a próxima!

sexta-feira, 16 de março de 2012

ConJOGANDO o esporte no plural V

Saudações! Como prometido, a sagrada postagem das sextas-feiras. A série segue evoluindo da ideia dos jogos para o estudo elementar do esporte, permitindo a diferenciação entre individual e coletivo.

Já tratei a respeito deste tema na série sobre Esportes Coletivos, mas vamos iniciar com a discussão inicial das invariantes citadas por Bayer.

Aos esportes coletivos, são comuns a bola (ou outro implemento: disco no hóquei, o frisbee no ultimate), companheiros de equipe, adversários, regras específicas e alvos a atacar e defender. Eu acrescentaria, se a modéstia me permite, o espaço delimitado de jogo.

Peça sugestões de esportes e anote todos num quadro ou lousa. Na sequência, passe avaliando cada um deles por meio dos elementos citados acima para definir se são coletivos ou não. Faça uma forcinha para incluir jogos e continuar determinando que eles são diferentes dos esportes na sua particularidade modificável.

Queimada:
Tem bola? Sim! Tem colegas de time? Sim! Tem adversários? Sim! Tem um alvo a atacar? Sim, o adversário! Tem um alvo a defender? Sim, nós mesmos e os colegas! Tem regras específicas? Não, as regras podem mudar, as mãos podem ser frias, o cemitério no fundo ou lateral... Então até pode ser coletivo, mas não é esporte.

Natação:
Tem bola? Não. Tem adversários? Sim. Tem colegas de equipe? Pode ter. Tem alvo a atacar? Não. Tem alvo a defender? Não. Tem regras específicas? Sim. Como aparecem várias negativas, não é esporte coletivo.

Corrida de revezamento:
Tem bola? Não, mas tem o bastão! Tem colegas de equipe? Sim! Tem adversários? Sim! Tem regras específicas? Sim! Tem alvo para defender? Não. Tem alvo a atacar? Não. É esporte, mas não coletivo, cada um corre em sua vez sem qualquer relação com o adversário.

Esta parte sempre pode ser breve, desde que todos tenham assimilado a relação. Vamos à prática!

1 - Passa 10: famosíssima, sua utilidade aqui é integrar alguns dos elementos previstos aí no nosso texto. Vemos a formação de equipes, o uso de um implemento para jogar e uma possível variação pode relacionar um espaço determinado. Leve o questionamento se isso é esporte, esporte coletivo, jogo... Continue estimulando!

2 - Derruba-cone: passível de várias transformações, este jogo já inclui a maior parte dos elementos descritos. Só vão faltar as regras específicas, afinal é um jogo! Inicialmente, disponha uma equipe na defesa dos cones, que estarão dentro de um círculo que não pode ser invadido por ninguém. A equipe atacante tenta derrubar os cones por meio de arremessos.

Duas possíveis variações do Derruba-Cone

A simplicidade dos exemplos é a maior prova da familiaridade que todos devem ter com a temática. Duvido que seja mais claro que isso. Volto na outra sexta-feira para apresentar algumas sugestões neste trabalho, seja na didática, seja com mídias e fontes interessantes.

Abraços a todos e até a próxima!

segunda-feira, 12 de março de 2012

ConJOGANDO o esporte no plural IV



Minhas desculpas pela ausência da postagem de sexta-feira. Sabe como é, blogueiros também tem vida social... Fui a um encontro de colegas de turma da faculdade que moram em São Paulo. Sempre bom rever os amigos!

Mas os trabalhos dobrarão nessa semana para entrar em fase. Hoje o olhar será depositado sobre uma característica divisora de águas, talvez mais uma intenção que uma característica. A competição e a cooperação em jogo.

Aula III - Competir e Cooperar

Esses termos podem ter aparecido em algum momento da vida dos alunos, mas a construção desse conceito e o uso consciente de situações que indicam o que prevalece pode tornar a sua maneira de participar de uma atividade diferente do que era antes.

Quando o indivíduo entende que competir e cooperar coexistem e mesmo cooperando existe desafio e superação, além daquela sensação danada de boa de alcançar uma meta, vai ter outras ferramentas em que se basear para participar de qualquer jogo.

Comece justamente questionando esses conceitos, contextualize dentro e fora da área da Educação Física, será uma discussão bem rica. Um sucesso de público e crítica é a pergunta final: vocês preferem COMPETIÇÃO ou COOPERAÇÃO? Aposto e ganho que os fominhas vão berrar que preferem competir. Aí você pode aplicar o contra-ataque: a presença da cooperação nos esportes coletivos, inclusive no amado e idolatrado futebol. Pronto, mentes mais abertas, vamos á prática.

A seleção de atividades foi pensada para demarcar território entre os dois conceitos e também permitir a expressão de ambos em conjunto. Seguem as sugestões:

1 - Queimada Ameba: mais uma daquelas que sempre são cartas na manga. Sucintamente, essa queimada é jogada individualmente (cada um por si) em todo território de jogo. Com uso da bola, um jogador procura queimar outro. Os queimados devem se abaixar e permanecer no lugar (amebas) até serem tocados ou conseguirem a posse da bola, assim retornando ao jogo.

--> Mente aberta a todas as possibilidades dessa atividade. Mais bolas, "amebas" podem ou não deslocar-se, jogadores tocados pela "ameba" tornam-se "amebas"... Outra coisa interessante que costuma acontecer: jogadores passam a bola às "amebas", que retornam ao jogo. Cooperação e Competição, onde estão?

2 - Travessia: com pequenos, vale uma condução historiada de uma travessia de um oceano profundo, povoado de monstros e só se pode pisar nas boias (bambolês). Como meus sextos anos são bem crescidinhos (mais do que a gente espera...), fui no concreto mesmo. Divida as equipes, estas receberão um número de bambolês correspondente a no máximo a metade do número de integrantes da equipe (oito pessoas = 3 ou 4 bambolês). Não instrua nada, só peça que eles atravessem o espaço determinado sem pisar fora dos bambolês.

--> Às vezes, demora, mas eles percebem que precisam ouvir os colegas, pensar em conjunto. A colocação dos bambolês, distância entre cada um, possibilidades dos colegas de equipe, ajuda para equilibrar-se sem pisar fora do bambolê. Mais situações para discutir! Veja se ao final eles conseguem fazer antes e comemoram porque chegaram primeiro, será que alguém falou que era uma competição contra as outras equipes?

Duas breves possibilidades. Existem outras muitas, basta ir a alguns sites de jogos cooperativos, mesmo sites com vídeos, também pode-se marcar situações de competição excludente por estafetas de habilidades (acertar a bola na cesta, driblar cones sem encostar em nenhum, acertar cones, pular corda). Bom trabalho!

Na sexta, não faltarei. Prometo a sequência dos estudos, agora indo em direção aos elementos do esporte coletivo e individual. Abraços a todos e até a próxima!

sexta-feira, 2 de março de 2012

ConJOGANDO o esporte no plural III


Boas! A passagem do carnaval com certeza faz o ano correr mais, já estamos em março! E nada de deixar para trás nossas intenções de informar mais sobre jogo e esporte. Hoje vem a sequência das nossas atividades.

Aula II - Possibilidades infinitas do jogo

Reveja se os conceitos da aula anterior estão frescos e na ponta da língua. Hoje eles estarão presentes novamente! Como atividade inicial, peça novamente sugestões de jogos praticados pelos alunos com o objetivo de verificar a aceitação das ideias e afinar as opiniões. A turma deverá escolher um desses jogos para que sejam propostas mudanças na maneira de jogar (espaço, número de participantes, regras, duração do jogo, implementos usados no jogo).

Auxilie na divisão em grupos e destine algum tempo para que cada grupo discuta as alterações que pretende apresentar.

- Uma outra opção, neste momento, é pedir aos alunos que conversem com algum adulto sobre os jogos que eles gostavam quando crianças. As brincadeiras e jogos praticados algumas décadas atrás tinham uma riqueza interessante e maior popularidade, enquanto hoje perderam espaço para o esporte.

Tive uma experiência interessante com uma segunda série em 2008, quando revisitamos a Amarelinha. Não pude registrar essa atividade, mas conseguimos transformar a atividade de várias maneiras: apareceram amarelinhas em formato de círculos concêntricos, amarelinhas com letras onde deveriam ser soletradas as palavras, amarelinha par ou ímpar, amarelinhas de quadrantes espaçados e com outros formatos geométricos.

Uma opção: saltos na sequência dos números, saltos em pares ou ímpares, um pé em cada número... Deixa a criatividade dos alunos falar mais alto para que eles percebam como o jogo permite tais sugestões!

O interessante é permitir que eles viajem mesmo! Vão aparecer opções de muita qualidade... Ao final, permita que cada grupo apresente suas realizações aos demais e os alunos possam escolher uma dos jogos criados para jogar. Não deixe de fazer observações sobre o processo coletivo de criação das novas regras dos jogos e como isso torna sua prática ainda melhor, se comparada à prática esportiva fechada em formato único.

A Amarelinha é um bom exemplo, mas existem outros jogos que podem aparecer. Só estar vigilante para não permitir maior confusão entre jogo e esporte. Os próximos passos serão em direção ao jogo cooperativo, sem excluir ou classificar. Abraços a todos, ótimo final de semana!
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